terça-feira

Cara e Carácter

Sem sua cara,
vive de traça,
come as letras
do alfabeto dos sabios.
Digere erros,
converte controversas,
esquece a opnião.

O seu carácter
sem sua cara
se perdeu nos livros
de mofos que mora,
apagado e morto,
assim como si.
" Seu celular já está desligado a dias. A voz do seu amado já é alpha demais, o choro do bebê familiar demais. Se sumisse e fosse feliz, iria para o céu?
Que céu pode haver melhor que um inferno montanhoso sem comida? O conforto do seu carro e seu tapete é igual todo dia."
"Entrega o relatorio cheio de poréns, não sabe mais escrever satisfatoriamente, nem parece mais a jornalista que já foi. Não há mais um espaço vazio na sua prateleira para o terceiro prêmio. No lugar há uma cafeteira."
"Já que a sede bate tão forte em dias como este, já bebe de golão do gargagalo, quase se afoga com água mineral, e foge, foge pra morte mais próxima procura, sabe-se lá o que, uma bóia de hidrogênio...

Flutua, flutua..."



(pega minha mão)
pare de pensar que não pode...



não pode...



não pode...


pode?

so this is christmas?

Dedos tão enferrujados que não geram mais poesias nem prosa, inguiçados entre o A e o B. É o alfabeto que fica menor ou são as palavras que não existem mais?
Pensamentos que transbordam em um plano circunstancial, simplesmente criados pra rimar, atingindo uma página inteira de condecorações que refletem o que não sente.

Destravar as teclas com a verdade é mergulhar em uma poça de realidades que só transformaria-a em animal, quando o que precisa é permanecer humana.
Por isso e por tantas outras pequenas omissões, mantém oxidado os dedos e lava suas mãos.

domingo

Parece que nunca vai conseguir,
e quando vê não valoriza.

Cospe.
meio verso faz
assim como causa

dançar é
ainda mais

meia música
metade de um

partida contra
começo de

tudo certo
amanhã tudo

errado...

segunda-feira

só mais um sobre você.



serie: resumos
a tristeza que come os dias
corróe a vida aos poucos
enferruja o sorriso
Já me sinto tão velha
tão incapaz de me mexer

e agora você está tão longe
cada dia podera se distanciar
mais e mais
aos poucos me transformando em
pura inércia
de pensamentos secos

Vem devagar e toma minha mão
me faz dançar pelo asfalto
quente e frio
meus pés não sentem mais as bolhas
meu corpo só sente você
só acorda pra ouvir aquilo e isso
que envolve o teu ato

seu corpo deve ter sido feito de poema
ou de tinta comestivel
de qualquer coisa
que vem
Seis estômagos,
seis noites.

um almoço.



série: resumos
cinco dias de uma vida
dois em outra
mais uns vinte em mais três.

como você mede a sua vida,
em coisas que fez, quer fazer, já desistiu?

mede em mágoas, em verdades,
ou quem sabe, em saber?

você mede?
você conta?

ou você vive?
mais fotos num album do que sentimentos numa pessoa.


série: resumos
Que me preocupa não é a métrica
mas a sincerétrica
Fica a dizer que está tudo bem, que a sua pele nem está seca, e que boa parte dos seus dias têm água.
Se esforça pra vender aquela bala, aquele almoço, aquele adesivo que ninguém quer. Ninguém, exceto as criaturas de meio metro, balançando as bainhas dos vestidos das matronas, choramingando sobre como, como, como quer.

Todos disfarçam com um sorriso seco, um desculpa inexistente.
Será pior fazer parte dos 99% ou dos sinceros...


Ser 1% é tão difícil.
Acordando toda noite, suado, sentindo a camiseta colada
doença sem tosse,
e tal febre que não cura.
Abrindo as janelas da imaginação, pensando em cada coisa
que passa e logo vai,
será que é isso que você quis dizer,
o que será que se esconde embaixo dos teus cilios?

Se sorri, sem sorri, acho que não.
Tudo é tão verdadeiro.

Pegando-me em suspiros,
pensando em você
que logo passam-se a ser lágrimas de saudade.